Sabemos que o envelhecimento é inevitável. No entanto, quando vemos nossos entes queridos, que sempre nos pareceram fortes envelhecendo, isso pode ser bastante doloroso.
A discussão sobre envelhecimento e finitude nem sempre é frequente dentro das famílias.
Compreendemos que esses momentos chegarão, mas, muitas vezes, adiamos essa conversa, por parecer algo distante.
Algumas de nós já estão experimentando essa troca de papéis. Estão acompanhando seus pais em consultas médicas, organizando os medicamentos, fornecendo apoio financeiro, alimentando, cuidando das necessidades básicas, entre outras tarefas.
Mas como fica a nossa saúde mental enquanto estamos nesse lugar tão delicado?
Uma sensação de desamparo pode aparecer. Afinal quem costumava cuidar da gente necessita de cuidados agora.
O cansaço, a sobrecarga, a culpa e a sensação de insuficiência também podem chegar. Como ser filha e mãe ao mesmo tempo? Como ser filha e cuidadora ao mesmo tempo? Como ser filha, cuidadora e profissional ao mesmo tempo? Como tomar decisões por alguém que já é adulto?
Equilibrar esses e outros papéis que desempenhamos não é uma tarefa simples e não existe uma única maneira de fazer
isso.
No entanto, gostaria de sugerir algumas opções para refletirmos juntas e apoiá-la na construção do seu caminho:
1 – Evitando guardar tudo para gente
Falar sobre o que estamos sentindo pode ser um passo importante para sabermos qual caminho faz mais sentido para nós.
Sabermos até onde podemos ir, sabermos como e quando pedir ajuda. Recebermos cuidado enquanto cuidamos.
Nesse caminho pode ser válido conversar com familiares e amigos. Mesmo que estejam a distância. Os outros podem ter uma perspectiva diferente e nos ajudar a nos enxergarmos melhor diante desta situação.
2 – Buscando apoio de quem entende do assunto
Ter suporte de profissionais de saúde, que estão acompanhando quem estamos cuidando é imprescindível em situações como estas.
Muitos hospitais, clínicas e unidades básicas de saúde costumam ter equipes multiprofissionais, que ajudam familiares e cuidadores a se sentirem mais capacitados e acolhidos para lidar com o envelhecimento e a doença de seus entes queridos.
É nessa hora que podemos tirar dúvidas, buscar informações de como proceder com os recursos que temos, de como encontrar mais apoio, etc.
3 – Participando de grupos de discussão e apoio on-line ou presenciais
Nem sempre nos sentimentos compreendidas naquilo que estamos vivendo. E ouvir outras pessoas que estão passando por algo semelhante pode ajudar a nos sentirmos menos sozinhas nessa jornada.
Nas redes sociais podemos encontrar muitas comunidades interessantes nesse sentido. Como comunidades de familiares de pessoas com Alzheimer e Demência, por exemplo.
Com relatos espontâneos e informações úteis que podem nos ajudar a encontrar apoio adequado e passar por isso de uma forma mais leve.
E dependendo da nossa localidade podemos encontrar, através dos postos de saúde e/ou prefeituras, grupos de apoio para familiares e cuidadores.
4 – Nos permitindo ter momentos além do sofrimento
Neste momento de hospitalizações e cuidados médicos, de quem amamos, podemos acreditar que não é adequado ter momentos felizes. Ou até mesmo relaxar.
Algumas de nós vivem em constante alerta, acreditando que se distanciarem um pouco da situação tudo pode desmoronar.
É importante relembrarmos que não temos controle de tudo e que ter emoções positivas, apesar dos momentos difíceis, é imprescindível para nos mantermos saudáveis e nos fortalecermos nesse momento tão complexo.
Que possamos nos permitir sair quando possível, rir, ter companhias agradáveis, praticar uma atividade física, manter um hobby que nos faz bem.
5 – Evitando ser a super mulher
Buscar acolher nossas expectativas e compreender que existe aquilo que é ideal e o que é possível, diante de qualquer situação, também é um passo importante nessa jornada.
Às vezes acreditamos que tudo depende somente do nosso desejo e esforço. Mas somente podemos nos articular com os recursos que temos e a partir daquilo que podemos ver de cada momento.
6 – Recebendo suporte e cuidado emocional na terapia
A terapia pode ser um espaço válido para poder nos acolhermos, nos cuidarmos e construirmos maneiras de se articular melhor com este momento.
É comum nos depararmos com sentimentos complexos nesses momentos e guardarmos eles por medo do que irão pensar. Na terapia é possível verbalizar qualquer tipo de emoção e sentimento. Seja culpa, medo, tristeza, insegurança, impotência, raiva ou o que quer que esteja chegando para nós.
A terapia pode ser nosso ambiente seguro para construirmos a decisão que faz mais sentido para nós e para nossa família. Afinal, cada situação é muito particular e por isso não existe apenas um único jeito de lidar com ela.
Além disso é um momento para relembrarmos e considerarmos nossos próprios desejos e necessidades. Tão fáceis de esquecer quando estamos mergulhadas no cuidado com alguém.
Espero que essas sugestões possam te inspirar a se cuidar e construir seu próprio caminho de autocuidado e cuidado do outro.
E se precisar de apoio neste processo. Conte comigo pra te acompanhar! 💛