Há momentos em que sentimos, de forma quase dolorosa, que algo precisa mudar em nossas vidas. Sabemos o que fazer, entendemos racionalmente o caminho a seguir, mas, ainda assim, algo nos mantém onde estamos.
Como se estivéssemos presas a uma versão de nós mesmas que já não nos faz bem, mas que, de alguma forma, ainda nos define. O que nos impede?
O medo do desconhecido? O receio de errar? Ou a sensação persistente de que talvez não sejamos boas o bastante para querer mais?

A Angústia da Escolha e o Medo do Arrependimento
A liberdade assusta. Ter que escolher significa, inevitavelmente, abrir mão de outras possibilidades. E isso pode ser paralisante.
Se eu decidir mudar de caminho, será que vou me arrepender? Se eu me afirmar, será que ainda serei aceita? Se eu deixar para trás tudo o que não me cabe mais, quem eu serei?
Muitas vezes, não é a mudança em si que nos assusta, mas a responsabilidade de sermos as autoras da nossa própria história.
Afinal, ao assumir essa liberdade, não há mais a quem culpar. Não há destino traçado, não há um “eu” pronto e acabado. Somos construção constante – e essa ideia pode ser ao mesmo tempo libertadora e angustiante.

A Insegurança e a Voz do Outro em Nós
A dúvida sobre quem somos de verdade muitas vezes nasce do olhar do outro.
Desde pequenas, aprendemos a nos enxergar a partir das expectativas alheias, moldando nossas escolhas para sermos aceitas, amadas, validadas.
Com o tempo, essa voz externa se confunde com a nossa, e começamos a duvidar dos nossos próprios desejos. Será que quero mesmo isso ou apenas aprendi que deveria querer? Sou incapaz ou apenas me disseram que eu não conseguiria?
Parar de se diminuir não significa apenas repetir frases de afirmação diante do espelho. Significa interrogar essas vozes que nos habitam, perceber de onde elas vêm e decidir, conscientemente, quais delas ainda queremos carregar.

Entre a Autenticidade e a Solidão
Ser quem se é pode ter um preço. Ao nos posicionarmos, ao colocarmos limites, ao deixarmos de corresponder às expectativas que um dia nos moldaram, podemos nos deparar com rupturas.
Algumas relações se transformam, outras se perdem. E isso dói. Mas há algo ainda mais doloroso: viver uma vida que não nos pertence, sustentando um papel que já não faz sentido para nós.
Talvez a maior coragem que possamos ter não seja a de mudar radicalmente, mas a de nos permitir existir sem tantas máscaras.
Não há um momento ideal para isso, nem um caminho sem riscos. Mas há uma possibilidade sempre presente: a de, pouco a pouco, nos tornarmos mais próximas de quem realmente somos.

Uma Sugestão de Percurso Para Sair da Paralisia
Se você sente que está travada, que não consegue dar o passo que gostaria, talvez seja hora de acolher essa angústia em vez de fugir dela.
Perguntar-se, com honestidade, o que está em jogo para você. O que essa paralisia protege? O que você teme perder? E, acima de tudo, o que você deseja realmente viver?
Aqui estão alguns pequenos movimentos que podem ajudar nesse processo:
- Nomeie seus medos. Escreva ou diga em voz alta aquilo que te impede de agir. Muitas vezes, ao dar forma ao medo, ele se torna menos assustador.
- Faça escolhas menores. Se uma grande mudança parece impossível agora, que pequeno passo você poderia dar em direção a ela?
- Observe seu diálogo interno. Você se trata com acolhimento ou com críticas constantes? Tente trocar a autocrítica por um olhar mais gentil consigo mesma.
- Diferencie o medo da intuição. O medo paralisa, mas o refletir possibilita novos. Tente perceber se a hesitação vem de um risco real ou de inseguranças internalizadas.
- Busque espaços de reflexão. A música, a escrita, a arte, a troca com pessoas que te acolhem – tudo isso pode ajudar a organizar as emoções e tornar os próximos passos mais claros.
A mudança não precisa ser brusca, nem definitiva. O mais importante é dar-se a chance de existir de forma mais autêntica, sem tantas amarras.
E se precisar de apoio nesse caminho, a terapia pode ser um espaço para essa exploração. Não para encontrar respostas prontas, mas para sustentar as perguntas.
Para que, aos poucos, você possa se escutar com mais atenção e, quem sabe, confiar na única pessoa que pode decidir sua vida: você mesma.
Conte comigo!