Algumas fases da vida parecem um eterno recomeço. Mudamos de cidade, de trabalho, de rotina. Tentamos reorganizar tudo, traçar novos planos, criar novos hábitos. Mas, de repente, nos pegamos exaustas, frustradas, sentindo que estamos falhando em algo essencial: sermos a melhor versão de nós mesmas.
Essa sensação de fracasso não vem do nada. Ela é alimentada por uma ideia muito sedutora e, ao mesmo tempo, cruel: a de que podemos (e devemos) nos otimizar continuamente. Como se fôssemos um projeto inacabado que precisa de constantes atualizações. Como se houvesse um ponto final onde, finalmente, estaríamos plenas, produtivas, saudáveis e completamente realizadas. Mas será que essa busca incessante por melhoria nos faz bem? Ou será que, no fundo, ela nos aprisiona em uma insatisfação sem fim?

A Ilusão do Controle: Quando a Vida Não Se Comporta Como um Aplicativo
Vivemos em um tempo que nos ensina a gerenciar nossas vidas como se fossem startups. Somos incentivadas a traçar metas para absolutamente tudo: carreira, corpo, alimentação, relacionamentos. E, se algo sai do esperado, nos culpamos. Como se todo desajuste fosse falha nossa, e não parte natural da existência.
Só que a vida não funciona como um aplicativo de produtividade. Não dá para apertar um botão e “voltar ao ritmo”. Às vezes, estamos cansadas e precisamos de tempo para digerir mudanças. Grandes transições — como mudar de cidade, começar um novo trabalho ou lidar com uma vida que não parece corresponder ao que esperávamos — exigem adaptação. E adaptação não é linear.
Se tudo está parecendo difícil agora, não significa que você está falhando. Significa apenas que você está atravessando um momento de mudança. E mudanças são processos, não metas a serem batidas.

Fracasso ou Processo? O Que Você Está Chamando de Erro?
Quando nos sentimos “atrasadas” em relação à vida, é comum olhar para trás e pensar: “Eu já estive mais organizada, já treinei com frequência, já comi melhor, já me senti mais confiante.” Mas será que essa comparação faz sentido?
A pessoa que você era há um tempo tinha outro contexto, outras demandas, outras urgências. Tentar replicar aquela versão de você mesma pode ser injusto, porque o momento presente exige outras coisas.
E mais: será que o que você chama de “fracasso” não é apenas um período de transição?
Não ter conseguido estruturar sua rotina de exercícios ainda, não ter organizado sua alimentação como gostaria, não estar onde imaginava estar na sua vida pessoal — tudo isso não é um erro. É apenas o espaço entre o que foi e o que está se tornando.

E Se o Autocuidado Não Fosse Mais uma Meta?
Talvez o problema não seja a falta de disciplina ou motivação. Talvez o problema seja a ideia de que precisamos dar conta de tudo, de uma vez, o tempo todo.
E se autocuidado não fosse uma lista de tarefas a cumprir, mas sim uma relação mais gentil consigo mesma?
Talvez cuidar de você, agora, não signifique retomar tudo de uma vez. Talvez signifique descansar quando estiver exausta. Comer o que é possível, dentro do que o momento permite. Se movimentar da forma que seu corpo aguenta agora, sem culpa por não estar no ritmo que um dia já teve.
Talvez, nesse momento, a melhor versão de você mesma seja buscar atravessar os dias sem se violentar com cobranças impossíveis.

Perguntas para Reflexão
Se essa sensação de culpa e cobrança tem sido frequente, aqui estão algumas perguntas para pensar:
- O que aconteceria se você olhasse para esse momento como parte do processo, e não como uma falha?
- Você sente que está perseguindo um ideal que realmente faz sentido para você, ou apenas tentando cumprir uma expectativa externa?
- Se você não estivesse se comparando com essa versão idealizada de si mesma, como avaliaria seu próprio caminho até aqui?
O cuidado verdadeiro não acontece quando nos pressionamos para sermos melhores, mas quando nos permitimos ser humanas.
E talvez seja isso que você precise agora: não um novo plano de otimização da vida, mas um pouco mais de gentileza consigo mesma.
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