Durante muito tempo, eu acreditei que algumas coisas não eram para mim.
Não por falta de desejo, mas por uma sensação estranha de que eu precisava “merecer muito” para facilitar o meu cotidiano. Como se descanso fosse um prêmio, e não uma parte legítima da vida.
Recentemente, comprei uma lava-louças.
E, enquanto eu trabalhava no escritório — que fica na minha casa — o Alfred, meu aspirador robô, limpava o chão devagarinho.
Olhar para essas pequenas facilidades despertou algo dentro de mim.
Não foi só alívio.
Veio também um certo incômodo, quase uma culpa.
Como se uma parte de mim dissesse:
“Será que não estou sendo preguiçosa demais?”

Foi aí que eu percebi: existe um estranhamento em descansar.
Mesmo sabendo que a sobrecarga é insustentável, mesmo defendendo o autocuidado, mesmo acompanhando tantas mulheres que vivem exaustas… quando o descanso chega de forma prática, concreta, automatizada, algo dentro da gente se pergunta:
“Será que posso?”
“Será que devo?”
Essa sensação tem raízes.
Raízes que nos ensinaram que esforço é medida de valor.
Que cuidar da casa é obrigação invisível.
Que facilitar a rotina é coisa de gente preguiçosa ou rica demais.
Mas talvez não seja nada disso.
Talvez o que esteja em jogo aqui seja um gesto de reconciliação:
reconciliação com o direito de ter tempo. De se escutar. De não se esgotar.
Nem tudo que alivia precisa ser descartado como futilidade.
E nem tudo que é caseiro precisa ser exaustivo para ser digno.
Facilitar a vida não é se render ao conforto,
é reivindicar o direito de existir com mais liberdade.
É dizer sim à partilha real dos cuidados,
e não à cobrança disfarçada de independência absoluta.
É escolher o descanso como parte do caminho — não como prêmio, mas como condição de continuidade.

O Alfred aspira o chão.
A lava-louças faz o trabalho que tantas mãos femininas repetiram por gerações.
E eu escrevo.
Eu escuto.
Eu cuido.
Eu também descanso.
E isso — apesar do estranhamento — também é parte de me tornar dona da minha história.
Aos poucos, estou aprendendo que não é preciso doer tanto para viver.
Nem carregar tanto para ser merecedora.
Talvez a leveza não seja ausência de responsabilidade,
mas a presença de um outro ritmo:
aquele que respeita os nossos limites e planta o cuidado como raiz.
Te convido a tentar esse novo ritmo também.🌸
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